quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Missa de Finados

Para milhões de católicos espalhados pelo mundo o Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. Por muito tempo os cristãos não se relacionavam com os mortos, por acreditar que a ressurreição do corpo aconteceria apenas no dia de juízo final para toda a humanidade. Dessa forma, rejeitavam qualquer doutrina que tratasse da imortalidade da alma. Após a fusão da Igreja cristã ao Estado romano, os cristãos acabaram adotando alguns costumes e crenças de vários povos, tais como o de rezar e se comunicar com os seus antepassados mortos junto aos túmulos. O Dia de Finados foi instituído no século 10, por Santo Odílio, na França, para os mosteiros de sua ordem especificamente. No século 11, a igreja católica universalizou a data através dos papas Silvestre II, João XVIII e Leão IX, que obrigaram a comunidade a dedicar um dia por ano aos mortos. Já a data 2 de novembro foi instituída no século 13. Feriado oficial no calendário nacional, o Dia de Finados (2) foi institucionalizado no século 13, e em geral, é celebrado pelos católicos, no entanto, também é lembrado por budistas, judeus e seguidores de outras religiões. Muitas pessoas vão aos cemitérios para deixar flores ou acender velas por seus mortos, outros, porém, optam por fazer preces pelas almas de seus entes queridos. De uma forma ou de outra, todos elevam seus pensamentos com respeito pelo parente ou amigo que já se foi. Como nos explica o Arcebispo emérito de Uberaba, Dom Benedito Ulhôa Vieira, ao JORNAL DE UBERABA: JORNAL DE UBERABA - Comemoramos o dia de Finados. Qual é o significado da data para a igreja católica? DOM BENEDITO - A comemoração dos mortos que igreja celebra no dia 2 de novembro, logo depois da festa de todos os santos, que é comemorado no dia primeiro de novembro, (mas no Brasil celebramos no domingo, 31 de outubro), é uma comemoração de saudade, para recordar os nossos mortos, mas também de oração pelos nossos mortos. A igreja nesse dia permite ao padre, mesmo que não seja obrigatório, que celebre três missas contando que aplique as missas em favor dos mortos, um dia de oração. Por que nós cremos na vida eterna, esse é sentido de Finados, não é apenas acender uma vela no cemitério, acreditamos que quando uma pessoa morre sem pecado grave mas com as imperfeições que carregamos, passamos pelo purgatório, tempo em que Deus concede um tempo de purificação interna dos nossos defeitos. Portanto, Finados é muito mais que uma visita ao túmulo no cemitério, as pessoas vão pela saudade. É mais importante assistir a uma missa em favor do falecido do que ir ao cemitério. Não tenho certeza, mas acredito que a data foi instituída pela igreja católica, um dia especial em oração pelos mortos. JU- Durante todo o período das eleições, um dos assuntos mais discutidos foi sobre a legalidade do aborto, como o senhor e igreja católica se posicionam sobre o assunto? DB - Eu vejo isso como estupidez. Não matar, não é uma coisa que o cristianismo inventou, o não matar vem da natureza humana, não tenho direito, nem mesmo de matar um cachorro, quanto mais uma pessoa indefesa. As pessoas colocam este assunto como religioso, eu concordo, o não matar é uma religiosa, mas não é originalmente religiosa. Se olharmos na bíblia do Velho Testamento, no tempo de Moisés, está escrito não matar, quer dizer matar um ser humano adulto já é um crime, a pessoa é presa e condenada, e agora matar um ser humano que ainda não nasceu, indefesa, a não ser a da lei, é uma barbaridade muito grande. Por isso que a igreja colocou no seu código de direito canônico, e isso geralmente o povo não sabe, que o pecado do aborto o padre não pode absolver, somente o bispo. JU - Então o senhor acha que o aborto é ilegal, mas em caso de estupro a prática poderia ser legal? DB - Ilegal, é contra a natureza, não precisa de lei para coibir. Nem mesmo no caso do estupro acho que seria certo, pois é um ser humano que não tem culpa de ser concebido. Então a igreja realmente é rigorosa nisso, tanto que o papa Bento XVI disse ao grupo de bispos brasileiros que não tivessem nenhum receio em ensinar a doutrina verdadeira, que nem mesmo é católica e sim humana, não matar é uma doutrina humana, você pode ser protestante, ateu, espírita, você não pode matar somente por ser católico. Os jornais têm dado uma perspectiva errada, dizendo que a Dilma, ela no início era pro-aborto e agora é contra, mudou de opinião, mas ela tinha de mudar, por que uma lei da natureza humana, eu não posso matar um ser humano, mesmo que seja um inimigo.
JU - Agora com o fim das eleições, como o senhor avalia o posicionamento dos candidatos, principalmente da eleita Dilma? DB - Eu acho que na época de eleição, sempre há um pouco de agressividade, portanto de oposição. Nesse caso atual, em que havia dois candidatos de grande valor, eu penso que o critério da parte do eleitor deveria ser olhar a experiência de cada um, acho que o presidente da República não pode ser inexperiente. Um sujeito que era vereador da menor cidade do Brasil, amanhã quer ser presidente da República. Exige-se dele uma participação da vida política no país durante muito tempo, para que possa se apresentar como candidato a presidente. Neste caso comparo com a igreja católica, o padre que se ordenou ontem não pode ser bispo hoje. Tem de ter primeiro um pouco mais de idade, depois tem que ser mais preparado para assumir uma diocese. Este é o motivo por que a igreja não nomeia um padre de 25 anos como bispo. JU - Depois de mais de três meses de campanha, como encara a vitória de Dilma, para presidente? DB - Estou mais confiante no governo da Dilma Rousseff em comparação ao do presidente Lula, pois ele aproveitou a sua popularidade para fazer o que quer, não respeitando certas conveniências que deveriam ser observadas. Já a Dilma, que é declarada de "esquerda", penso que saberá respeitar melhor as leis e os protocolos. Além disto, por ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil ela deverá caprichar. JU - Por falar em política, outro assunto bastante comentado nas eleições foi sobre o Movimento Sem Terra, como o senhor vê as invasões de terra no Brasil? DB - Eu vejo preocupado, acho justíssimo ter distribuição de terra para quem não tem e precisa trabalhar, é nisso que precisamos investir. Mas invadir a terra do outro acho isso uma barbaridade que nenhum governo tem o direito de aceitar. Portanto se tenho uma propriedade imensa que não é aproveitada, acho que o governo pode através das leis, dividir a minha terra, para aqueles que precisam trabalhar. Mas na questão de invadir, isso é desordem social que não podemos aceitar. JU - Qual é a perspectiva de futuro que o senhor espera da presidente eleita? DB - Eu espero que o próximo presidente tenha uma atitude de abertura para os mais necessitados. Acho que parte do presidente uma administração mais humana, mais sadia, parece-me que tem havido essa preocupação nos últimos presidentes, mas ainda é necessário mais dedicação às causas sociais, que ainda são muitas. JU - Sobre religião. Vivemos em uma cidade em que o espiritismo é bastante praticado, qual é a opinião da igreja católica sobre este fervor da população nesta crença? DB - Acho que nós cristãos temos o compromisso com o evangelho e nisso ele é bastante claro. Quando o Nosso Senhor conta aquela parábola em que o sujeito pede a Deus que alguém da família dele viesse a terra, para advertir aqueles que não estavam procedendo bem, Deus responde que existe uma distância grande entre os que já passaram desta vida, e o que estão aqui, sendo que há uma impossibilidade de comunicação. Esta é a palavra de Jesus Cristo. Que para nós, católicos, é a palavra absoluta. Espero que os espíritas estudando o evangelho, lendo a palavra de Deus, voltem atrás nas suas posições, que são humanamente erradas e teologicamente inaceitáveis.
JU - Portanto, é diferente de ressurreição, situação em que os católicos acreditam.
DB - Ressurreição seria o milagre de Deus, permitindo que o corpo que é consumido, volte a existir e se una a alma que é imortal, e possa gozar da eternidade ou do castigo eterno.
JU - Como o senhor encara a participação dos cristãos do século XXI, na igreja católica?
DB - Há sempre aqueles que são muitos fervorosos e servem de exemplo de santidade para os outros, e aqueles que levam o cristianismo, na maneira brasileira, do mais ou menos. Hoje vai a missa, depois na procissão, faz uma promessa para um santo. Mas a vida religiosa não só isso. É uma convicção interior na palavra de Cristo que é Deus.
Acho que precisamos ter uma firmeza de atitude, e fé na palavra de Cristo que é o evangelho.
O meu desejo e o meu trabalho de bispo é anunciar às pessoas, a palavra do evangelho para que livremente as pessoas possam aderir a Jesus, não no mais ou menos do brasileiro, mas inteiramente pela fé, pela atitude, pela vida que levam, uma adesão total a Jesus que é o nosso Deus e redentor.